segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Neuromodulação e a fisioterapia 

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Uma das áreas exploradas pela fisioterapia é a neuromodulaçãoque exerce um efeito de recondicionamento fisiológico, possibilitando a remodelação de sinapses através dos mecanismos de neuroplasticidade (capacidade de reestruturação das conexões das nossas células nervosas), permitindo, teoricamente, o recondicionamento neural.  
Ao contrário do que muitos, pensam a neuromodulação não é um assunto totalmente novo. Ações relacionadas a ela datam da década de 60, com a estimulação da medula espinhal para o tratamento da dor refratária, que é uma dor resistente e que não responde a tratamentos convencionais, como terapia manual e cinesioterapia. No Brasil, a neuromodulação foi aprovada pela ANS (Agência Nacional de Saúde) no final de 2013 e entrou em vigor em 2014.  
A técnica para ativação de neuromoduladores (noradrenalina, dopamina е serotonina) inclui uso de dispositivos implantáveis e não-implantáveis, que, através de estímulos químicos e elétricos modificam reversivelmente a atividade das células nervosas no cérebro, medula e nervos periféricos. Hoje em dia, na fisioterapia, são usadas técnicas não-implantáveis, como o acoplamento de eletrodos na prática da eletroterapia.  

Neuromodulação na fisioterapia: 
- Controle da dor 

Os estímulos dolorosos ativam nocireceptores que quando são despolarizados seguem por via aferente em fibras chamadas A-delta, que tem caráter agudo e são mielenizadas, e por esse motivo mais rápidas, e as fibras C, de caráter crônico, que não contém bainha de mielina e por isso são mais lentas. Esses estímulos chegam até o sistema nervoso central onde será percebida a sensação de dor. 
Os estímulos vindos da eletroestimulação do sistema aferente sensitivo, chegam a via trato espinotalâmica, especialmente nos núcleos periaquedutais que sob controle cortical liberam substâncias que produzem a diminuição da dor. 
Uma corrente elétrica indicada para modulação da dor é a corrente TENS, uma corrente pulsada bidirecional de baixa frequência, que não é tão confortável, mas que é capaz, digamos, de ‘competir’ com a dor, provocando a diminuição dessa sensação dolorosa. Podem ser utilizados os limiares sensitivo, motor ou nocivo, dependendo da intensidade da dor. Para analgesia imediata e de curta duração, utiliza-se o limiar sensorial, com freqüência de 80 a 200 pps (pulsos por segundos), e duração de pulso de 80 a 150 microssegundos. Já para analgesia de longa duração, utiliza-se o limiar motor, com frequência de 2 a 10 pps e duração de pulso de 150 a 200 microssegundos. 

- Controle miccional 
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A eletroestimulação periférica é eficaz para tratamento de disfunções miccionais em adultos, tais como a chamada bexiga hiperativa, que é a condição na qual há contração involuntária do músculo da bexiga durante o seu enchimento com urina 
Quando a bexiga apresenta um funcionamento normal, o músculo consegue eliminar a urinar quando o reservatório esta cheio, pois os receptores muscarínicos (que captam a estimulação da bexiga cheia) conduzem essa informação pelo nervo pélvico, para o sistema nervoso, que posteriormente, envia o estímulo para a musculatura da bexiga, em resposta, fazendo-a se contrair para eliminar a urina. Já em pacientes com bexiga hiperativa, a bexiga nem chega a encher completamente e já há contrações fora do tempo, o que leva a uma vontade quase incontrolável de ir ao banheiro. O que acontece é que os receptores muscarínicos da bexiga estão muito excitados e quando há o mínimo de estímulo a esses receptores (pouca urina na bexiga), eles detectam rapidamente, enviam o estímulo para o sistema nervoso, que entende que a bexiga está cheia (mesmo que não haja quantidade suficiente de urina) e em resposta envia o estímulo para que ocorra a contração da bexiga. 
Apesar de as pessoas terem vergonha dessa condição e esconderem tal problema, elas devem receber os cuidados cabíveis o mais cedo possível, pois a bexiga hiperativa tem tratamento, usando-se por exemplo, a neuromodulação. 

Características da corrente para neuromodulação 

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O tratamento da bexiga hiperativa com eletroestimulação utiliza os seguintes parâmetros: 
Frequência de 4 a 10 Hz, pulsada com fluxo bidirecional, com duração de pulso alta sendo maior que 400 microssegundos. O tempo de tratamento deve ser de 30 minutos por sessão, sempre respeitando o limiar de tolerância do paciente. Usando uma técnica de arranjo bipolar com dois eletrodos siliconados, posicionados um no maléolo medial e outro no arco plantar para estimular o nervo tibial, porém podem ser colocados nas vértebras S2 a S4 também. Os eletrodos podem ser posicionados dessa maneira, pois o nervo tibial posterior e nervo pélvico são ramos da mesma raiz nervosa. A estimulação das raízes sacrais e/ou tibial induz reflexos vesicais excitatórios e inibitórios, dependendo da intensidade e frequência da estimulação. Estes estímulos são enviados ao sistema nervoso central que restabelece a função vesical normal. 

Referências Bibliográficas 
MONTEIRO, Ébe dos Santos. AQUINO, Leticia Moraes, GIMENEZ, Marcia Maria. FUKUJIMA Marcia Maiumi, PRADO, Gilmar Fernandes. Eletroestimulação transcutânea do nervo tibial posterior para bexiga hiperativa neurogênica. Revista Neurociencia 2010. 
CECCATO, Rebeca Boltes. CHADI, Gerson. A estimulação elétrica funcional (FES) e a plasticidade do sistema nervoso central: revisão histórica.Revista Acta Fisiátrica. Dezembro de 2012. 
GOMES, Isabela PalmeiraSILVA, Otaviano Ottoni daMATOS, Rodrigo AlmeidaSILVA, LEDISMAR José da. Importância da neuroestimulação medular no tratamento da síndrome do insucesso da cirurgia espinalArq. bras. neurocir; 33(2)jun. 2014. tab. 
JESUS, Lisieux Eyer de. NERY Kathia. O uso da neuromodulação no tratamento das disfunções de eliminações. Rev. Col. Bras. Cir. Vol.34 no.6 Rio de Janeiro Nov./dec. 2007.  
MONTEIRO, E. S., et al. Eletroestimulação transcutânea do nervo tibial posterior para bexiga hiperativa neurogênica. Revista Neurociencia. 2010; 18(2): 238-243. 
ANDRADE, Débora Jardim; CASARIN, Naiára; MELOS, PatríciaBARCELOS, Tiéli e FRIGO, Letícia. A estimulação elétrica via tibial posterior no tratamento da incontinência por hiperatividade vesical. 
Forum Fisio <http://www.unifra.br/eventos/forumfisio2011/Trabalhos/1017.pdf> Acessado em 07/10/2015 
Imagem1: Disponível em <www.interligasneuro.com.br> acessado em 27/09/2015 
Imagem2: Disponível em <http://vidaabuelo.com/blog/incontinencia-urinaria-en-la-tercera-edad-parte/> acessado em 25/09/2015 
Imagem3: Disponível em <https://mundodoassoalhopelvico.files.wordpress.com/2012/08/tns.jpg> acessado em 27/09/2015 

35 comentários:

  1. Parabéns pelo post!! Informações bastante claras.

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    1. Agradecemos pelo elogio e por sua visita ao blog, sinta-se á vontade para esclarecer suas dúvidas sobre os Recursos Terapêuticos Físicos.

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  3. Achei muito interessante, não sabia que uma estimulação no calcanhar influenciava na bexiga!

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  4. Adorei, parabéns pelo estudo e pelo trabalho!!

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  5. Trabalho muito bem escrito, gostei bastante!!

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  6. Informações muito interessantes

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  7. Ótimo texto, super informativo!
    Adorei a relação do controle de dor com a neuromodulação.

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  8. Que interessante, estimular o pé e isso refletir na bexiga.

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  9. Muito interessante a postagem. Me ajudou bastante!

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  11. Muito interessante esse texto! Esses parâmetros são moduláveis?

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  12. Achei muito interessante o texto, nos mostra como é importante o estudo da Neuromodulação, um ramo que vem crescendo na Fisioterapia e que é tão importante!

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  13. Adorei ! Super interessante.. Vocês brilharam !

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  14. Muito bom o texto, me auxiliou em uma pesquisa.

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  15. Excelente postagem.Linguagem clara e objetiva,assunto muito interessante.Continuem assim

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  16. Postagem muito bem elaborada e clara! Continuem assim! Nota 10!

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  17. gente, não tinha nem ideia da existência desse tipo de tratamento. que bacana! :)

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    1. Agradecemos pelo elogio e por sua visita ao blog, sinta-se á vontade para esclarecer suas dúvidas sobre os Recursos Terapêuticos Físicos.

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