Para aplicar efetivamente a eletroestimulação é importante
rever alguns princípios básicos de como os nervos são ativados pelos sinais
elétricos e como os músculos se contraem em resposta a esses sinais. É também
importante compreender os tipos de fibras musculares, padrões normais de
recrutamento de fibras musculares e o modo como esses são revertidos quando se
usa a estimulação elétrica (eletroterapia). Será discutida a aplicação prática
da estimulação elétrica neuromuscular (NMES) de músculos inervados e da
estimulação elétrica muscular (EMS) de músculos desnervados. Ao longo do
trabalho será de fácil percepção se o tipo de grupo muscular e a contração
consegue ou não o ganho de força muscular.
Tipos de Aparelhos
Há comercialmente um número imenso de aparelhos para
estimulação elétrica (usando uma variedade de tipos de correntes) que são
vendidos sob uma variedade de nomes. Os aparelhos podem ser portáteis (operados
a bateria) ou ligados na rede elétrica e tem havido algum debate sobre qual
tipo de aparelho seria melhor para o fortalecimento muscular. Alguns
pesquisadores têm argumentado que as unidades ligadas à rede elétrica podem
produzir maiores ganhos de força, já que podem causar níveis de força de
contração para treinamento mais elevados, particularmente quando usados para
grupos musculares maiores como o quadríceps. Contudo, não há evidências claras
de que qualquer tipo de aparelho tenha uma eficácia maior. É essencial que o
usuário verifique se o aparelho a ser usado tem disponíveis os parâmetros
exigidos e adequados para o tratamento.
- Fortalecimento em condições
não-neurológicas
Têm sido propostos dois mecanismos para o fortalecimento
muscular com NMES. Primeiro, os ganhos de força podem ser conseguidos da mesma
maneira que nos programas convencionais de fortalecimento usando exercícios
voluntários, que usam um baixo número de repetições com altas cargas externas e
uma alta intensidade de contração muscular (pelo menos 75% do máximo). O
segundo mecanismo através do qual o fortalecimento pode ocorrer é o
recrutamento preferencial de fibras musculares fásicas do tipo n, que têm um
limiar mais baixo para NMES.
- Estimulação elétrica de
músculos saudáveis
Em
geral, as evidências das pesquisas, não suportam o uso da estimulação elétrica
para aumentar a força ou a resistência à fadiga em músculos saudáveis. Tem sido
mostrado claramente que a combinação de estimulação elétrica e exercício não é
mais efetiva do que apenas exercício. É importante notar que em geral os
efeitos vistos com a NMES foram produzidos com forças de treinamento muito mais
baixas do que as usadas no exercício voluntário.
Há, contudo, alguma controvérsia quanto à NMES
ser mais efetiva para o fortalecimento dos músculos abdominais do que o
exercício voluntário. Embora a NMES de múltiplos grupos musculares (incluindo a
estimulação dos músculos abdominais) do modo usado em clínicas de tonificação
muscular tenha se mostrado totalmente inefetiva para o fortalecimento muscular,
há alguma evidência de que a NMES combinada com o exercício voluntário possa
ser mais efetiva do que o exercício sozinho para o treinamento abdominal em
indivíduos saudáveis. Isso pode ser explicado pelo fato de que em muitos
adultos saudáveis os músculos abdominais se acham atrofiados ou que o uso de
NMES facilita o aprendizado da ativação correta dos músculos abdominais.
- Estimulação elétrica de
músculos atrofiados
A estimulação elétrica
para fortalecimento é útil clinicamente para prevenir a atrofia por desuso em
casos que envolvem imobilização ou contra-indicações para o exercício dinâmico,
no início da reabilitação facilitando a contração muscular, no fortalecimento
muscular seletivo ou na reeducação muscular .
Existem muitos estudos que examinaram os efeitos
da estimulação elétrica na força em populações de pacientes, por exemplo, após
reparo do ligamento cruzado anterior ou em distúrbios patelofemorais. Alguns desses
estudos têm mostrado que a NMES (com ou sem exercícios voluntários) causa uma
melhora na força maior do que o exercício voluntário sozinho enquanto outros
estudos têm mostrado que a NMES é apenas tão efetiva quanto o exercício
voluntário quando a intensidade do programa de exercícios voluntários é maior.
Embora os estudos que examinaram o efeito da
NMES tenham enfocado em grande parte a reabilitação de lesões de joelho, essa
tem se mostrado útil na reabilitação de pacientes com disfunção do assoalho pélvico,
que pode levar a incontinência fecal e urinária. A estimulação elétrica foi
feita através de uma sonda endoanal usando regulagens de baixa frequência de 20
Hz e de alta frequência de 50 Hz para atividade direcionada para fibras
estáticas (de contração lenta) e dinâmicas (de contração rápida) com um tempo
de modulação em rampa de 20%. Após 12 semanas de tratamento (uma sessão por
semana), a estimulação elétrica combinada com o biofeedback audiovisual da
atividade muscular melhorou significativamente as pontuações de continência. Foram
encontradas melhoras significativas na incontinência urinaria após 15 semanas
de estimulação da musculatura do assoalho pélvico.
- Estimulação elétrica
do músculo desnervado
Apesar de mais de um século de uso de
EMS para estimular músculos desnervados, a controvérsia quanto ao seu uso e eficácia
ainda permanece. Isso é primariamente devido à variedade de protocolos de
tratamento que têm sido usados para avaliar o tratamento. Embora atualmente não
haja consenso sobre o ciclo de trabalho que deve ser usado e a frequência de
estimulação ou o número de contrações que deveriam ser empregados, sugeriram
que a EMS pode protelar a atrofia e as alterações associadas. Contudo, também
observaram que não há evidências sugerindo que tal retardo seja significativo
em termos da recuperação final.