A termoterapia é a utilização de recursos terapêuticos
físicos (RTFs) para promover o aquecimento ou o resfriamento tecidual. Tem como
objetivo promover alterações na termodinâmica, com indicação para proporcionar
analgesia, relaxamento muscular e reparo tecidual. Para que estes benefícios
ocorram é preciso, entretanto, que a temperatura dos tecidos varie dentro de
uma faixa específica. Fora dela, há riscos de lesões ou de um tratamento não
eficaz.
Com o objetivo de verificar como os fisioterapeutas
lidam com essa questão, realizamos uma entrevista com um fisioterapeuta esportivo e uma acadêmica do 10ª período de
fisioterapia da PUC Minas. Segue abaixo uma síntese da conversa que tivemos com
cada um deles:
1.
Quais os
recursos terapêuticos físicos utilizados para aquecimento e resfriamento?
FISIO: Em relação aos recursos que promovem aquecimento
temos os recursos de termoterapia superficial, que engloba banho de parafina,
lâmpada de infravermelho, bolsas de água quente, e mantas térmicas; e os
recursos que promovem aquecimento profundo, como o ultrassom, ondas curtas e
microondas. Já entre os recursos que promovem resfriamento temos a compressa
fria, massagem com gelo, spray e banho de contraste. Além de outros métodos,
que associam pressão e elevação ao resfriamento, que podem ser realizados pelos
aparelhos Game Ready, Cryo Cuff e Polar Care.
ACADÊMICA: Para aquecimento temos diversos recursos como: os
banhos de parafina, as mantas térmicas, as compressas quentes, ondas curtas,
microondas, ultrassom, lâmpada de infravermelho e forno de Bier. Já para os
recursos de resfriamento temos as compressas frias (que podem ser de gel, ou
com gelo triturado), os sprays, as hidromassagens com água gelada, os banhos de
imersão, as massagens com gelo e os banhos de contraste.
2.
Qual a
dosimetria indicada para o aquecimento e o resfriamento?
FISIO: A dosimetria irá depender do objetivo principal e da
terapêutica disponível. Tanto para aquecimento superficial quanto para
diatermia utilizo um tempo de 10 a 20 minutos. A intensidade da diatermia deve
ser abaixo do limiar de
percepção do paciente. Sendo sempre uma percepção mínima de calor, porque no tecido
profundo ela terá um aquecimento mais eficaz. Nos recursos de termoterapia
superficial, utilizo o relato do paciente de uma temperatura morna para quente
agradável, nunca acima da tolerância do paciente. Com o sistema de Gamered para
resfriamento utilizo em média uma temperatura alvo de tecido de até 4ºC.
ACADÊMICA: Existem diferenças nas temperaturas que você quer
utilizar. Por exemplo: se o objetivo for um efeito de estiramento do colágeno,
você precisa atingir temperaturas entre 42° a 44°C. Se quiser promover alívio
de dor, você vai atingir temperaturas a partir de 37°a 41°C. Então, dependerá
da estrutura e qual a profundidade desta para determinar qual instrumento você utilizará
para atingi-la. Já na crioterapia o
esperado é que o tecido atinja de 13 a 18°C.
3. Quais os principais
efeitos fisiológicos promovidos pelos recursos de aquecimento e resfriamento?
FISIO: Os recursos de aquecimento promovem um aumento do
fluxo sanguíneo, remoção de catabólitos, remoção dos irritantes e relaxamento
muscular. Já a crioterapia promove redução do fluxo sanguíneo, analgesia e a
utilização do banho de contraste melhora a circulação sanguínea e controla o
edema.
ACADÊMICA: Os recursos de resfriamento promovem diminuição da
condução nervosa, atua no potencial de ação das fibras, levando à diminuição da
condução, estimulando as fibras sensoriais que leva a uma sensação de alívio de
dor, além de diminuição do metabolismo celular, redução do processo
inflamatório (como consequência da diminuição do metabolismo), vasoconstrição
tecidual e contenção de edema (esses recursos não reduzem o edema, mas devido à
vasoconstrição ajuda a conte-lo). Já o aquecimento promove a estimulação das
fibras sensoriais no corno posterior da medula, que são fibras mais
mielinizadas do que as de condução nervosa de dor, gerando analgesia; aumento do
metabolismo celular, aumento da extensibilidade de tecidos conectivos e do
colágeno; auxilia no reparo tecidual.
4. Existem diferenças na
temperatura adequada de resfriamento e aquecimento para fins terapêuticos
dependendo da estrutura que se deseja atingir? Por quê?
FISIO: Sim,
normalmente em extremidades, para crioterapia, utilizo uma temperatura mais
alta, pois já se tem alterações de fluxo sanguíneo nessas regiões. Para o
aquecimento, como nas extremidades há menos tecido, não precisa manter o calor
por muito tempo para se ter o efeito desejado. Sempre uso a relação com a
quantidade de massa que o calor precisa “atravessar”. Em uma pessoa mais obesa,
às vezes precisa-se utilizar mais tempo, mas tomando cuidado para que não haja
nenhum tipo de lesão.
ACADÊMICA: A velocidade que um tecido vai aquecer, resfriar, ter
maior troca de calor ou ter maior variação da temperatura depende do seu nível
de vascularização. Sabe-se que tecidos menos vascularizados tendem a controlar
pior a temperatura, portanto as variações nesses locais são maiores. Com isso,
é esperado o uso de doses de calor menores ou por menos tempo. É o caso das
extremidades.
5.
Qual a dose de aquecimento indicada
para as extremidades, já que apresentam temperaturas mais baixas do que as
demais partes do corpo?
FISIO: Utilizo índices de resfriamento menor para extremidades
e o índice de aquecimento eu utilizo um tempo um pouco maior em relação às
outras estruturas.
ACADÊMICA: Para o resfriamento utiliza-se entre 11°a 25°C para
efeitos terapêuticos, abaixo de 10°C é considerado efeito com potencial lesivo
e acima de 25°C efeitos considerados placebo. Para o aquecimento entre 36/37° a
44°C, sendo que abaixo disso é considerado placebo e acima disso potencial
lesivo. A temperatura que você quer atingir no tecido depende de que efeito
você quer promover, porque efeitos diferentes significam valores e faixas
diferentes.
6.
Já que não é possível mensurar a
temperatura da área em tratamento, como saber se o recurso terapêutico físico
atingiu o efeito desejado ou teve apenas efeito placebo?
FISIO: Eu
utilizo a referência da manipulação do tecido, por exemplo, se eu quero induzir
um aumento de temperatura visando um relaxamento, uma melhora de flexibilidade
ou uma liberação miofascial eu faço o testes manuais de fáscia, de
flexibilidade e de alcance, para ver se o relato de realização do movimento
melhora após a aplicação.
ACADÊMICA: Temos diretrizes que definem como os recursos devem
ser aplicados. Então, o primeiro passo para que você não tenha o efeito placebo
ou lesivo, é segui-las corretamente. Se
você fez a aplicação correta da técnica objetivando um aumento da mobilidade
articular você dispõe de ferramentas para ver se houve melhora ao final do
tratamento. Além disso, o relato do paciente é muito importante.
7. Para a utilização de
recursos terapêuticos físicos, é de costume, durante sua prática clínica,
recorrer à literatura para embasar os procedimentos?
FISIO: Utilizo embasamentos literários quando é um recurso
novo para mim. Costumo utilizar principalmente os livros do Prentice.
ACADÊMICA: O primeiro passo é você procurar na literatura algo
que embase a sua conduta, para depois aplicá-lo. O ideal é que sim, que
tenhamos sempre atualização bibliográfica acerca de todos os recursos. O estudo
que publicamos agora, no TCC, demonstra exatamente essa necessidade de se ter
um controle mais rígido até mesmo sobre aquelas técnicas que já são difusamente
propagadas nas práticas clínicas.
8. Qual o recurso de
aquecimento e resfriamento mais utilizado em sua prática clínica?
FISIO: De resfriamento utilizo a compressa com gelo, tipo
bolsa ou panqueca. De aquecimento, o que mais uso é a manta térmica.
ACADÊMICA: São muito utilizadas às compressas de gel congeladas
para resfriamento, já para o aquecimento as compressas quentes, ondas curtas e
ultrassom terapêutico (com doses para efeitos térmicos).
Conclusão:
Existem diversos recursos terapêuticos relacionados à termoterapia que podem
vir a ser úteis no tratamento de determinada disfunção. Desse modo, cabe ao
profissional, saber quando e como utilizar os recursos, levando em conta sua
disponibilidade e efeitos promovidos.
Além disso, ressalva-se que as fontes de pesquisa,
sejam elas livros, artigos e publicações, são de extrema importância, pois são
elas as responsáveis por atualizações no conhecimento do Fisioterapeuta acerca
dos assuntos envolvidos na prática clínica.
Ótimo trabalho! Muito bom ter uma comparação entre o fisioterapeuta e o acadêmico. Excelente!
ResponderExcluir👏👏👏 bem interessante, gostei!
ResponderExcluirÓtimo trabalho!! Muito bem explicado.
ResponderExcluirAmei o post! Bastante informativo, com uma linguagem acessivel e bastante interessante os pontos abordados!! Parabéns aos autores!
ResponderExcluirMuito interessante esse tipo de informação, excelente trabalho.
ResponderExcluirTrabalho muito interessante...Bem feito e explicado...Muito importante para todos...Parabéns!!!
ResponderExcluirÓtima explicação galera! Vai ser de grande ajuda aos acadêmicos da área.
ResponderExcluirAdorei! Há muito procurava matérias sobre isso e não encontrei nada tão bem feito, parabéns! 👏🏼👏🏼👏🏼
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